O aneurisma cerebral é uma doença silenciosa que requer atenção e cuidados médicos imediatos. Identifica-los nem sempre é simples porque, em sua maioria, os pacientes não apresentam sintomas. Entretanto, o diagnóstico precoce pode salvar uma vida, como explica o Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião, médico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Chama-se aneurisma a dilatação formada na parede enfraquecida de uma artéria do cérebro. Se rompido, ele pode levar à hemorragia cerebral. No entanto, nem sempre é preciso realizar uma cirurgia como tratamento e, por isso, o acompanhamento médico é essencial em qualquer caso descoberto.
Mais comuns em mulheres
O Dr. Marcelo Valadares ressalta que a proporção de aneurismas cerebrais em mulheres é de 1.6 para cada homem, em geral. “Após a menopausa, ainda, essa proporção aumenta para quase para 2 mulheres para cada homem”, afirma o especialista. Mas porque isso acontece?
Existem muitas teorias que vão desde a ação do estrógeno, que levaria a uma proteção em relação ao risco de ruptura de aneurismas durante os anos férteis da mulher. “Porém, há um risco maior após a menopausa, por conta da fragilidade dos vasos, passando por uma característica anatômica de que as mulheres têm um diâmetro menor de suas artérias até alterações hemodinâmicas, ou seja: a circulação do sangue no corpo é diferente entre homens e mulheres”, explica o neurocirurgião.
Possíveis sintomas, diagnóstico e tratamento
Segundo o Dr. Marcelo Valadares, geralmente os aneurismas são assintomáticos, apresentando sinais somente quando se rompem e levam à hemorragia intracraniana. “Aneurismas grandes ou muito próximos a estruturas nervosas, como os próximos aos nervos oculomotores – que movimentam os olhos, podem causar efeitos compressivos, levando ao mal funcionamento de estruturas cerebrais. Um dos sintomas dos aneurismas próximos aos nervos oculomotores é a visão dupla, causada pela dificuldade de movimentação de um dos olhos”, elucida.
Para o especialista, o diagnóstico precoce é essencial. “A mortalidade, quando há ruptura de um aneurisma, pode chegar a 50% instantaneamente; 50% dos que sobrevivem e chegam ao hospital podem morrer nos primeiros dias. É uma situação dramática e gravíssima, que justifica ações rápidas e precoces para diagnóstico e tratamento”, alerta o neurocirurgião.
Se os aneurismas não causam sintomas, quando é hora de buscar ajuda, então? A hereditariedade, segundo o neurocirurgião da Unicamp, é um fator de risco e ser considerado. Quando alguém possui dois ou mais parentes de primeiro grau com história de hemorragia cerebral causada por aneurismas, por exemplo, é preciso investigar. “Neste caso, o risco é de 8%. Também se considera a investigação quando um parente de primeiro grau e, pelo menos um parente de segundo grau (como meio-irmão, meia-irmã, tio, tia, avós e netos – ou, ainda, pessoas com irmão gêmeo, já tiveram histórico”, expõe. “Uma outra situação conhecida como doença renal policística também está associada a aneurismas cerebrais e justifica a triagem”, complementa o médico.
O Dr. Valadares esclarece que uma das melhores formas de diagnóstico do aneurisma cerebral é angiografia digital. Por ser muito semelhante a um cateterismo cardíaco, entretanto, é considerado um exame invasivo. “Com o desenvolvimento da tecnologia de imagem médica, hoje temos a angiotomografia, com uma qualidade de imagem tão boa e que, por ser um exame menos invasivo e mais disponível, tem sido usado como primeira escolha em casos de investigação”, diz.
Entre os tipos de aneurismas mais comuns, o médico cita os saculares e localizados em uma estrutura do cérebro conhecida como Polígono de Willis, que são confluências de artérias que distribuem sangue para as porções mais importantes do cérebro. Os aneurismas menos comuns, por outro lado são os micóticos, relacionados a infeções.
É importante ressaltar que nem sempre um aneurisma precisará de uma cirurgia. “Sabemos a probabilidade de sangramento de um aneurisma baseado na sua localização, no seu tamanho e pela idade do paciente. Aneurismas pequenos raramente sangram e, quando são diagnosticados em pacientes, idosos raramente precisam de tratamento. Por outro lado, aneurismas pequenos em pessoas jovens podem crescer e ter risco maior de ruptura, justificando as vezes tratamentos mais precoces”, afirma o Dr. Marcelo Valadares.
Sobre o Dr. Marcelo Valadares:
Dr. Marcelo Valadares é médico neurocirurgião e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Hospital Albert Einstein.
A Neurocirurgia Funcional é a sua principal área de atuação, sendo que o neurocirurgião trabalha em São Paulo e em Campinas. Seu enfoque de trabalho é voltado às cirurgias de neuromodulação cerebral em distúrbios do movimento, cirurgias menos invasivas de coluna (cirurgia endoscópica da coluna), além de procedimentos que envolvem dor na coluna, dor neurológica cerebral e outros tipos de dor.
O especialista também é fundador e diretor do Grupo de Tratamento de Dor de Campinas, que possui uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos.
No setor público, recriou a divisão de Neurocirurgia Funcional da Unicamp, dando início à esperada cirurgia DBS (Deep Brain Stimulation – Estimulação Cerebral Profunda) naquela instituição. Estabeleceu linhas de pesquisa e abriu o Ambulatório de Atenção à Dor afiliado à Neurologia.
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